quinta-feira, 24 de junho de 2010

CRÓNICA-A DETESTÁVEL VUVUZELA

Odeio a vuvuzela! Porque detesto a estupidez e é, no mínimo,estúpida a forma como está a ser abusada a corneta neste Campeonato de Futebol.
Se eu mandasse,o abominável canudo era destruído à porta dos estádios.De cá,porque estou mesmo a ver que a moda vai pegar e brevemente teremos o irritante zumbido a substituir os habituais cânticos clubisticos(de passagem,alguns também muito estúpidos)
Mas se fosse eu a mandar, não garanto que evitasse as tomadas de posição falhas de inteligência e bom senso.Se calhar,com o meu provincianismo bacoco,quem sabe se iria dar um passeio com a família, só para não estar presente na cerimónia fúnebre de alguém que, não sendo da minha particular simpatia,fosse considerada importante pelas pessoas cultas cá da terra.
Não sei porquê,lembrei-me agora de Saramago! E apercebi-me como a História é por vezes irónica!
O nosso pequenino País,além das sempre cantadas batalhas de outros tempos e o rasgar de rotas marítimas abrindo caminho para descoberta de novas terras,tem ainda aquilo que muitos países desejariam:dois(2)Prémios Nobel!
O primeiro foi atribuido ao Professor Egas Moniz,em 1949.Salazar,incompatibilizado com o agraciado,procurou sempre minimizar o feito.Nada a estranhar!
O segundo, deu ainda mais honra,por ser literário e foi atribuido a José Saramago,apesar do voto negativo de certo mesquinho político,responsável pela cultura do País(toda a gente sabe quem é Saramago,mas desconhece o insignificante Lara).
O mundo rendeu-se ao génio literário de Saramago,concordando ou não com as suas opções políticas.
No funeral do escritor,esteve o povo e várias individualidades portuguesas e estrangeiras.
Menos a figura que se impunha!
Ninguém esperava que em pleno século XXI um Chefe de Estado, ainda por cima democrata(?),recusasse estar presente nas exéquias de um vulto que orgulha o País.
Honra ao Presidente da Câmara de Lisboa,presente e participante na manifestação de homenagem.Cumprindo o determinado pela Presidência da República,mandou colocar a meia haste a bandeira nacional nos edifícios oficiais do município.Um "esquecimento" do seu congénere e "camarada" cá do burgo!
Sempre ouvi dizer:"As atitudes ficam com quem as pratica"
Felizmente atitudes como as que referi,são como"vozes de burro,não chegam ao céu"!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Rectificação obrigatória

Absolutamente por acaso,visitei o site:"Condeixa a Nova wikipédia-enciclopédia viva" e fiquei abismado com o que li.Confesso não estar muito familiarizado com estas coisas de computadores(burro velho,não aprende linguas, não é assim que diz o aforismo?),mas pensava ser obrigatório o rigor.Porque o texto, além de pobre em estilo literário,em alguns casos falta à mais elementar verdade.Vou tentar fazer a análise:
Quando se descrevem as casas senhoriais da vila(concelho),refere-se o Palácio dos Costa Alemão.Em primeiro lugar,chamar palácio a um solar com aquelas caracteristicas,acho despropositado.E não ficaria melhor dizer"Casa da Família Costa Alemão"?Já à Quinta de S.Tomé,chama-se"casa solarenga",quando se trata de algo mais do que isso.Seria necessário estudar primeiro a história de Condeixa para falar sobre estes temas.E nesse caso era possível dizer Palácio dos Lemos Ramalho, em vez de Palácio dos Sotto Mayor.Mas não ficam por aqui os disparates.Diz o tal site:"as actuais instalações da Câmara também eram um Palácio",sem explicar qual. Que diabo, se até o próprio Município chama à sua casa Palácio dos Figueiredos da Guerra!(quanto a mim erradamente porque o palácio foi mandado construir pelo Conde de Portalegre.Os Figueiredos da Guerra foram seus proprietários, mas a pedra de armas que se encontra sobre o portão,é dos Cabrais).Quanto ao palácio dos Condes de Podentes, sempre foi o Hospício, desde o tempo em que era Convento de Frades Antoninos e não "actualmente conhecido como Hospício".A Pousada de Santa Cristina, nunca foi palácio e muito menos incendiado pelos franceses.Trata-se de um edifício construído de raiz para a função que desempenha.No seu local existiu sim o nobre Paço dos Almadas,propriedade do Conde de Avranches, D. Lourenço de Almada, pai de D. Antão Vaz de Almada, o aclamador de D.João IV.
Quando as tropas francesas de Massena e Ney,na retirada após a derrota nas Linhas de Torres,passaram por Condeixa,destruiram a vila, saqueando e incendiando muitas casas.Curiosamente, o Paço dos Almadas e o Palácio dos Lemos Ramalho escaparam inexplicávelmente à chacina.
Isto é história, baseada em factos reais e fácilmente comprováveis.Lamento profundamente nunca ter aparecido uma entidade oficial para "impor"o rigor histórico.Era o mínimo que se exigia!
Já agora, que tanto se fala(erradamente)nos prédios notáveis,podiam ser referidos:a Quinta da Lapa, o palácio dos Matos,no Sebal Grande, a Casa dos Sás,na Praça da República,a Quinta da Melhora e o Palácio dos Comendadores,na Ega, entre outros dignos de registo.
No final do texto "História" do já referido site, é dito:"actualmente Condeixa é uma vila relativamente desenvolvida,com indústria e comércio próprios.Além disso,beneficiando com a proximidade de Coimbra e Conímbriga".Desde quando Condeixa beneficiou com o facto de existir uma das mais importantes estações arqueológicas da península no seu concelho?
E vem finalmente a referência a personalidades ilustres!Apenas um nome:o do médico escritor Fernando Namora.
Então o Ministro da Rainha D.Maria II,Rodrigo da Fonseca Magalhães,que até foi o responsável pela recuperação do estatuto de Concelho?Lisboa prestou-lhe homenagem,dando o seu nome a uma das mais importantes artérias da capital.E o Padre Dr.João Antunes que embora sendo de Coimbra aqui se radicou e dedicou o saber e a fortuna às artes da vila,fundando uma Escola de Artes e Ofícios e o primeiro Orfeão de caracter popular do país?E Manuel Filipe,professor e artista plástico que doou o espólio à sua vila e agora tem galeria própria na velha Escola Conde de Ferreira?Por falar em artes plásticas,porque omitir teimosamente o nome de António Pimentel,autor do lindo painel de azulejos que adorna a parede do Salão Nobre da Câmara,artista reconhecido no mundo,com obras expostas em Museus e Galerias de Arte francesas,inglesas,brasileiras,etc.?E tantos outros ilustres condeixenses?
É ofensivo reduzir apenas a um nome,um tema que podia constituir verdadeiro rol!

domingo, 13 de junho de 2010

O Cine-Avenida de Condeixa

Para falar sobre o Cine-Avenida,tem de se recordar a Condeixa da época em que ele foi inaugurado.
O início da década de 1930 foi fundamental para o desenvolvimento da então pequena vila,quase confinada às três vias principais:Outeiro,Condeixinha e Estrada Nacional que ia desde a Faia até ao Paço,com as suas pequenas transversais,Rua Nova,Penedo e Rua de S.Jorge.
A Praça da República tinha cerca de metade da área actual.O Palácio dos Sás estendia a fachada monumental desde a Igreja até à entrada da Rua Direita(R.Dr.Fortunato Bandeira de Carvalho).
Como referi na crónica"Contributo para Conhecer Condeixa",o Palácio foi incendiado pelas tropas invasoras francesas,tendo sido reconstruido em parte,mas apresentando aspecto progressivamente decadente.Foi então adquirido pela Câmara e demolido.Esse facto viria a modificar toda a estrutura habitacional da vila.A Casa dos Sás(Viscondes de Alverca)cedeu uma parcela de terreno por detrás do demolido prédio,com a condição de ser aprovado o projecto de urbanização do restante terreno e daí nasceram a Palmeira,a Rua Dr.João Antunes e a Avenida.
Um dos primeiros edifícios a ser construído nesta última artéria,foi o Cine-Avenida,que abriu as portas ao público apenas dois dias depois da inauguração da rede de abastecimento eléctrico à vila.O evento ocorreu no dia 1 de Dezembro de 1932,com um filme mudo chamado"Valsa do Amor"(o sonoro só viria dois anos depois,em 6 de Janeiro de 1934,com"O Estudante Mendigo",uma produção alemã).
Concebido inicialmente para exibição de filmes,o Cine-Avenida foi pouco depois alterado com a adaptação de um palco,o que lhe permitiu apresentar espectáculos de teatro.E muitos lá se realizaram!
Logo em 1933,um agrupamento amador chamado"Grupo de Cénico Dr.João Antunes" apresentou as peças:"Uma casa de estroinas";"Críticas às mulheres";"O 1023"e"Disparates".Faziam parte do elenco:Dr.José Alves,Álvaro Pedro Augusto,Ramiro de Oliveira,Joaquim Simões Melâneo,José Maria Ventura e João Loio.O ponto era Joaquim Rainho.O mesmo agrupamento representou posteriormente outras peças:"Noites de S.António","O Solar dos Barrigas"e a revista local popular de grande êxito"Secas e Picadas".
Embora servindo para inúmeras manifestações culturais,a função fundamental do Cine-Avenida era o cinema.A sala,composta por balcão,plateia e geral,comportava cerca de 600 lugares.Era ampla,com grande "pé-direito", o que permitia óptima ventilação.
O proprietário desta casa de espectáculo,Joaquim de Costa,era um empreendedor empresário condeixense,ao qual se devem outras iniciativas,inovadoras e de grande benefício para a vila:a primeira carreira regular de autocarros entre Condeixa e Coimbra,o primeiro carro de aluguer para passageiros e a primeira bomba de abastecimento de combustivel(gasolina),são algumas das suas realizações.
Quase desde o início,ao sábado à noite o cinema projectava uma curta sessão gratuita,chamada por nós"experimentação",destinada supostamente a verificar se o filme estava apto para a projecção dominical.Mas,segundo se dizia,Joaquim da Costa utilizava aquele método como forma de incutir nas crianças o gosto de ver cinema.Curiosa e inteligente forma de agir!Numa época de extrema economia,sem qualquer tradição publicitária,alguém estar disposto a fazer gastos aparentemente desnecessários apenas para adquirir futuros frequentadores de cinema,era no mínimo de louvar!
Nesse tempo as crianças brincavam na Praça,a jogar futebol ou com espadas e pistolas de madeira a imitar peripécias dos actores que viam no cinema,consoante este trazia fitas de Errol Flynn ou Tom Mix.
Para a "experimentação"não tocava a campaínha que ao domingo,estridente e continuadamente chamava os retardatários à função.Apenas se acendiam os globos brancos por cima do portão principal,sinal para a garotada,diga-se de passagem há muito com os olhos postos na porta vermelha.E quando ela se abria,entrava de rompante por ali dentro,sem o estorvo dos porteiros para cobrar os desnecessários bilhetes.
Mas ao domingo também era possivel enganar os fiscais e entrar sem comprar os respectivos ingressos.
Os bilhetes estavam divididos por um picotado e eram cortados à entrada pelo Ti Chico Chicharo,na plateia ou pelo Ti Zé Fontes lá em baixo na geral,junto ao malchreiroso urinol.O balcão,controlado pelo Ti Joaquim Nabo,era um local para nós inacessível.
A parte mais larga da senha ficava com os porteiros enquanto a mais estreita,onde estavam indicados o número de lugar e fila,ficava em posse dos espectadores.Na traseira do cinema,o Quintalão(actual Praça do Município),era o local para onde quem fazia a limpesa do salão despejava todo o lixo.E com ele íam os inutilizados talões.Nós só tinhamos que ir buscá-los e com muito jeito colar as duas metades.Para a coisa parecer verdadeira o Tónio Galhardo(António Pequicho Moita),filho de alfaiate,refazia o picotado na máquina de costura do pai e,para maior requinte,passava a ferro os bilhetes assim adquiridos.Pareciam novos!
Cada sessão tinha cor diferente de senhas.Se possuíamos algumas com a cor condizente,era só esperar o fim do som da campaínha,sinal que o filme ia começar.Na semi-escuridão era mais fácil enganar os porteiros!
A geral do Cine-Avenida era um local quase impossível de ver cinema.Porém,como os bilhetes era muito mais baratos,estava sempre cheia,embora os espectadores fossem obrigados a fazer esforço de contorção para ver a fita,pela proximidade do ecrã.
Recordo-me de um dia,tinha aí os meus oito ou nove anos,ter assistido da geral ao filme"A múmia".No momento em que ela,trazida à vida não sei porque artes mágicas,caminhou direita ao ecrã,ou melhor,direita a mim com aqueles assustadores passos de sonâmbula,confesso que me urinei todo...pelo menos!
O cinema estava todos os domingos invariávelmente cheio de espectadores.Nas épocas festivas,Natal,Passos e Páscoa, a capacidade era largamente excedida a ponto de ser necessário colocar bancos corridos ao longo das paredes laterais.É evidente que para essas ocasiões os filmes também tinham de ser especiais."Fátima,terra de fé"-Violetas Imperiais"-Frei Luís de Sousa"-"Marcelino,pão e vinho"...filmes que foram a delícia de centenas de cinéfilos.Durante a semana que seguia à exibição,o desempenho dos actores ou o tema do filme, eram assunto quase obrigatório de conversa.
Os filmes da chamada "Era de Ouro" do cinema português,passaram todos pelo ecrã do Cine-Avenida."O pátio das cantigas"-"Aldeia da roupa branca"-"Maria Papoila"-"Sonhar é fácil"-"O Costa do castelo"-"O homem do Ribatejo"-"Camões"-"Capas negras"-"O cerro dos enforcados"-"A mantilha de Beatriz"...sei lá! Todos!Ali rimos a bandeiras despregadas com as graças do Vasco Santana e do António Silva,comovemo-nos com os dramas da Amália,da Milú e do Alberto Ribeiro,enternecemo-nos com a pequenita Maria Dulce no "Frei Luís de Sousa"!
Mas nem só o cinema português nos entusiasmou. Para a pequenada,uma boa aventura do corsário Tyrone Power,do Xerife John Wayne ou do marinheiro Kirk Douglas,constituía sempre momento de grande exaltação.Não esquecendo as comédias de Bucha e Estica,Abott e Costelo,Cantinflas ou Irmãos Marx.
Também o teatro e a música,como já referi,estiveram em grande plano nas actividades do velho cinema.Vários espectáculos com grupos da terra ou vindos de fora,teatro infantil,revistas populares onde tiveram papel de detaque actores amadores de Condeixa, as inolvidáveis melodias do Maestro António de Oliveira e actuações do Orfeão da Casa do Povo,dirigido pelo Maestro Saul de Oliveira Vaio.
O cinema terminou os seus dias como celeiro da Cooperativa Agrícola de Condeixa e foi demolido no final do século vinte,após cerca de quarenta anos de actividade,uma actividade que foi progressivamente diminuindo após o advento da televisão.
Mas ainda hoje,quando vou a um cinema,não posso deixar de recordar o Cine-Avenida,com o seu grande candelabro de globos lá no alto,o inevitável tango "Rosas Vermelhas" tocado ao intervalo e,fundamentalmente, a "experimentação",parte integrante das nossas actividades lúdicas.
Cândido Pereira-

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Contributo para conhecer Condeixa

Condeixa,na sua multissecular existência e apesar das lacunas comuns a tantas outras terras do País,ainda tem no entanto possibilidade de estudar algo da sua ancestralidade através de documentação dispersa,existente principalmente na Torre do Tombo e no Mosteiro do Lorvão.
Os estudiosos podem nesses locais procurar informação útil ao seu trabalho.Isso é História,baseada em criterioso trabalho de pesquisa documental,que personifica a estrutura cultural de um povo.
A vila possui uma única monografia,da autoria do Capitão Augusto dos Santos Conceição,ilustre figueirense que a Condeixa dedicou grande parte da sua vida,mas a quem Condeixa ainda não foi capaz de prestar a justa homenagem.
Em 1947,Santos Conceição editou um volume monográfico intitulado"Condeixa-a-Nova".Mais tarde,já após o falecimento deste historiador,José Maria Gaspar, Inspector Escolar e antigo Presidente da Câmara,lançou uma segunda edição da mesma monografia,com alterações cronológicas e de actualização.
Paralelamente à pesquisa histórica,relativamente importantes são os relatos alicerçados em exercícios de memória,quer dos autores dos mesmos,quer a partir do testemunho de pessoas que viveram factos dignos de registo.
Em 1953, uma parceria formada pelo livreiro e estudioso da história local, Isaac Pinto, e Fernando Rebelo,veterinário municipal e autarca, editou também um conjunto de cadernos intitulado"Subsídios para a história de Condeixa".
Curiosamente,o primeiro fascículo era dedicado ao teatro amador condeixense,desde 1814,data da primeira apresentação nesta vila que só em 1853 viria a alcançar o estatuto de sede do Concelho.É notável a escolha do tema,sinal expresso da intenção de dar relevo ao aspecto cultural dos referidos cadernos.
De posse destes dois trabalhos,pode o leitor atento compreender o percurso desta antiga povoação,hoje próspera vila de Condeixa.
Mas 1953 fica muito distante!Entretanto,muitos episódios relevantes sucederam,a vila naturalmente modificou-se,principalmente nas últimas décadas.Inclusivamente,até a própria Estrada Nacional deixou de passar bem no coração da terra e afastou-se,criando de certa forma a descentralização do burgo.
Exactamente pensando no hiato histórico do último meio século,tive a ideia de descrever a velha Condeixa do meu tempo ,relatando episódios e referindo figuras entretanto desaparecidas ou factos ainda na memória de alguns,poucos.Desta forma,os meus netos e os netos dos meus contemporâneos,terão base para contar aos seus próprios descendentes,como era a vila.
Vou começar as crónicas descrevendo a Praça.
O antigo Terreiro passou a designar-se Praça da República logo após a implantação desta e muito antes da demolição do Palácio dos Sás.Este imponente edifício do século XVII,foi incendiado pelas tropas francesas.
Em 1927 a Câmara adquiriu o semi destruído prédio,demoliu-o e alargou o Terreiro,abrindo também novas vias.
A Praça,simplesmente,como era designada,foi sempre o lugar mais importante da vila.Mesmo quando não passava de acanhado local,lá se realizava o mercado bissemanal,só extinto na década de 1980 e transferido para o Quintalão.
As grandes tílias mandadas plantar pelo Presidente Dr.Madeira Lopes em 1953,enquadravam magníficamente um vasto espaço que a "cama" do Rio do Cais,com a sua "cabeceira" de azulejos policromados, os jardins circulares e o agradável odor das árvores em flor,formavam um conjunto agradável para passeio nas amenas noites de verão.
A Praça era a sala de visitas de Condeixa.
Noutro tempo,em frente à residência do Professor Mateus(hoje Restaurante Madeira),havia um largo ao qual vinham dar duas ruas nascidas da foz da Avenida.Formavam um triângulo,pequena praceta que em 1947 foi aproveitada para a instalação de um Parque Infantil.Todo murado,tinha os apetrechos necessários à sua função e,facto curioso para a época,possuía uma pequena biblioteca.A pessoa encarregado do bom funcionamento do parque era a "menina Otília".Após longos anos de utilização,o progressivo processo de degradação levou a que o parque fosse desactivado.As alterações da arquitectura da Praça,acabaram inclusivamente com o local onde estava instalado.
Aos domingos a Praça assumia a sua verdadeira função de centro cívico da vila.
Pelos bancos sentavam-se famílias trocando entre si as últimas novidades e mexericos.Senhores circunspectos palmilhavam cadenciadamente a Praça de lés a lés,discutindo "assuntos de relevante interesse".E os miúdos corriam por entre todos,pontapeando a "bola" de trapos.De vez em quando,o achatado objecto colidia com as pernas dos presentes e lá vinha o chorrilho de imprecações.Então,se as canelas eram do velho Abel Batata,as pragas tinham conotação mais sinistra:"Antigamente ainda vinham umas febres que davam cabo desta canalhada toda!"
Também no atrás referido largo se jogava à bola,sempre com atenção à aparição da autoridade,avessa às brincadeiras das crianças.Quando não era a intromissão de certo zeloso funcionário camarário,inimigo figadal de futebol na via pública.
Um dia,jogava-se com uma bola de borracha,raríssimo luxo só alcançado quando algum "menino rico"se juntava à plebe.No momento em que o esférico saiu do controle dos improvisados futebolistas,surgiu da Rua Direita o "tal" camarário.Pegou na bola,retirou do bolso um canivete e,com requintes de malvadez,cortou-a em gomos,como se estivesse a descascar uma laranja,alheio aos protestos veementes da garotada que assim via terminar tão aguerrido desafio.
Bem no meio da Praça,ladeado por altos candeeiros de ferro fundido,erguia-se o Chafariz.Dizia-se que era a representação de um cesto de flores,referência ao brasão da vila.Ideia errada porque vários outros existiam exactamente iguais,como o de Castanheira de Pera, e cesto de flores,apenas o emblema da vila de Condeixa possui.
Actualmente o chafariz está localizado noutro local da Praça.Quando no sitio original,embora estorvando os jogos de bola,tinha a virtude de servir de local de convívio para a "malta",tão carente de sitio mais apropriado.
A abrir as portas da Avenida,existiam dois belos edifícios.Um deles foi demolido para dar lugar a um Banco,mas o outro continua como simbolo representativo da arquitectura da primeira metade do século XX.
Já a fechar a Praça,o corpo lateral da Igreja Matriz,dedicada a Santa Cristina,padroeira de Condeixa.
Esta era a Praça do meu tempo.Hoje está em processo de radical alteração.É uma página que se volta nesta Condeixa sempre em processo de descaracterização!

quinta-feira, 3 de junho de 2010