quarta-feira, 23 de setembro de 2009

BREVE CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA ORIGEM DE CONDEIXA



Há tempos, a Câmara de Condeixa editou uma agenda particularmente destinada à população estudantil.Profusamente ilustrada com belas fotografias de todas as freguesias do Concelho e resumo da história de cada uma,com destaque para os locais mais representativos,pode considerar-se um trabalho muito interessante.Porém,um estúpido borrão mancha a intenção didática da obra e esta é a razão que me leva ,de uma vez por todas,a tentar acabar com a forma absurda de explicar a génese do topónimo Condeixa.Por amor de Deus,mesmo por curiosidade,deixe-se de dizer infantilidades como:"Oh! Conde,deixa a velha",ou"Oh! Conde, deixa a nova,ou ainda,como é referido na dita agenda,derivar o nome, do estado em que ficou o local,"Como a deixa",após as invasões bárbaras em Conímbriga.

O território há quase 9 séculos chamado Portugal,foi em tempos ocupado por diversos povos(Celtas,Íberos,Romanos,Visigodos,Árabes...).Era pois,naturalmente,uma manta de retalhos de dialectos.Só no século XIV, o rei D.Dinis ordenou que todos os documentos oficiais até aí escritos em latim,passassem a ser grafados na lingua que se falava no Porto,isto é,no norte, com forte influência galaica..Ora os vândalos invadiram Conímbriga no século V,DC. É legítimo alguém afirmar que nessa altura se dissesse"Como a deixa",tal qual agora falamos?

Vamos ser racionais e procurar outras explicações mais credíveis para a origem do topónimo.É só procurar nos livros próprios!

O historiador Borges de Figueiredo refere num documento do ano de 928 DC,no Livro de Testamentos,guardado no Mosteiro do Lorvão,estar indicada uma "Villa Cova Condesa Donna Onega".Segundo este autor,Conímbriga e suas cercanias ter-se ia chamado Civitate Condesa Donna Onega,expressão que derivou para Condexe,Côdeixa e, finalmente Condeixa,como aparece num documento do governo do moçarabe Conde D.Sesnando,valido de Fernando Magno,conquistador de Coimbra aos mouros.
Esta Villa Cova,presumo, estaria localizada no vale que se estende desde a Costa do Outeiro até à Costa de Condeixa-a-Velha e tendo como ponto dominante o promontório do Hospício,antigo Convento de frades Antoninos,hoje Palácio dos Condes de Podentes.
Há ainda uma alternativa para a origem do nome Condeixa.Num livro de autoria do Professor Doutor Jorge Alarcão,lê-se:"Em 987, a cidade (Coimbra),foi retomada por Almançor.Daí até 1064,data da reconquista definitiva por Fernando Magno,decorre um período de quase um século que, para nós é obscuro.A conquista de Almançor é noticiada por numerosas fontes cristãs e árabes.Nas fontes árabes, refere-se a conquista de Qandabajsa ou Qubdiyaysa,que precedeu a de Coimbra.A este nome corresponde o actual de Condeixa...Numa das fontes árabes, que enumera as campanhas do Almançor,diz-se:"A vigéssima sexta(foi)a de Condeixa,conquistou-a e no mesmo dia acampou diante dela e incendiou-a,arrasando-a posteriormente .Condeixa era provávelmente a antiga Conímbriga,ainda que diminuida da sua antiga grandeza".(Jorge Alarcão-Coimbra:A Montagem do Cenário Urbano).
Alguns séculos mais tarde,Pinho Leal afirma:..."que enquanto aldeia se chamava Casal do Outeiro...em 1500 esteve aqui D.Manuel I quando ia em peregrinação a Santiago de Compostela e lhe deu foro de Vila".(A.Santos Conceição.Condeixa-a-Nova,pág.10).Dá a ideia que o primitivo nome teria desaparecido. Não é verdade,pois D.Manuel concede foro a Condeixa e não ao Casal do Outeiro.Persiste a dúvida se seria a Condeixa-a-Velha ou a Condeixa-a-Nova .
.Pessoalmente,estou mais inclinado para a primeira pois era por lá que passava a estrada real que rumava a Alcabideque,Bom Velho e seguia para Coimbra.Porém, a contrariar essa ideia,há a considerar que a segunda já nessa altura era mais populosa e melhor localizada,junto a importantes linhas de água,fonte do seu posterior desenvolvimento.Questão de mero pormenor,irrelevante para o tema! Afinal,Condeixa é só uma,um grande cesto de flores,que são as suas diversas freguesias,locais de encanto e gente simples,trabalhadora e hospitaleira!
Cândido Pereira