Continuação
"E depois de de narrar os factos sucedidos em Baiona entre a deputação portuguesa e Napoleão,o mesmo historiador acrescenta:
«Estes factos foram depois adulterados com injustiça para a deputação,introduzindo-se na história deles,as atoardas espalhadas por Junot e pelos agentes franceses».
"Chegou,de facto, a dizer-se que os portugueses que haviam ido a Baiona,teriam pedido um rei a Napoleão,traíndo assim a fidelidade devida à dinastia de Bragança.Ora, como com eles estava o Bispo de Coimbra,D.Francisco de Lemos Faria Pereira Coutinho,2º tio de Francisco de Lemos,o 1º Presidente da Câmara Municipal de Condeixa,d'aí nasceria,talvez,a afirmação correntia de que os Lemos eram afectos aos franceses.
Também Alfredo Pimenta nos seus "Elementos da História de Portugal",se refere a que,em Abril de 1808,«Junot induziu miseravelmente algumas figuras representativas do Clero e da Nobreza a irem a Baiona formular determinados pedidos a Napoleão,relativos ao bem estar dos portugueses.O que ele queria,era afastá-los de Portugal e retê-los presos em França,como aconteceu.»
Tais figuras,eram os Bispos de Coimbra e Algarve,os Marqueses de Marialva,Penalva,Valença e Abrantes,o Conde do Sabugal,o Visconde de Barbacena,D.Lourenço de Lima,D.Nuno Álvares Pereira de Melo e 2 representantes do Senado da Câmara,Joaquim Alberto Jorge e Tomaz da Silva Leitão.
Para destruir os boatos que corriam a seu respeito,o citado Bispo de Coimbra,D.Francisco de Lemos,fez uma exposição pormenorizada do que se passara em Baiona,ao Principe Regente(futuro D.João VI),principiando pela intimação de Junot,ordenando-lhe que fizesse parte da tal deputação e se preparasse para partir e relatando em seguida,com documentos comprovativos,a viagem através da Espanha,os factos ocorridos em Baiona e Bordeus e,finalmente,o seu regresso a Portugal.Pensou,escreveu ele,declinar o encargo,alegando a sua avançada idade e inevitáveis incómodos da jornada,mas resolveu partir porque lhe pareceu que «podia ter ocasião de fazer algum serviço a V.A.Real».
Havendo-se juntado em Baiona-continua-os membros da deputação,presidida por D.Lourenço de Lima,concordaram nos pontos que queriam tentar expor a Napoleão,além daqueles que Junot alegara.
"O primeiro objectivo não foi pedir ao Imperador que fosse o Rei de Portugal,como tem dito algumas pessoas mal informadas;mas sim de tratar perante ele da conservação da inteireza do Reino,da reintegração da amizade e harmonia entre o Imperador e o Principe Regente N.Snr.,da vinda do mesmo Senhor e da sua Real Familia para Portugal e,não podendo isto verificar-se,da vinda do Principe das Beiras,seu filho e do seu casamento com uma Princesa da Familia Imperial.Tais foram os pricipais objectos da negociação que tratou perante o Imperador».
Este nem o ouviu,atalhando logo as diligências e mandando-os internar em Bordeus,de onde sairam feita a Paz.
É interessante notar o que,já em 1827,referia Walter Scott:
«Não tardou que Napoleão prescindisse dessa assembleia de homens notáveis de Portugal e os deputados foram mandados para Bordeus,onde permaneceram no esquecimento e na indigência,até ao momento da paz geral que lhes permitiu voltarem para suas casas».
"João do Ameal,na sua História de Portugal,relata a propósito dessa passagem da Guerra Peninsular:
«Organiza o Duque de Abrantes a famosa deputação a Baiona,sob o pretexto de solicitar de Napoleão um abatimento na contribuição de guerra e a liberdade dos nossos prisioneiros.O que todavia se procura é privar-nos de certo número de figuras proeminentes,que ficarão como reféns».
A titulo de curiosidade,referiremos que a contribuição aludida era de "desoito contos de reis",na verdade muito pesada para o depauperado tesouro nacional,constantemente alvo de arremetidas por parte dos invasores e daqueles que da situação se aproveitavam para fazerem fortuna.
D.Francisco de Lemos,escreve ainda ter chegado a Baiona em Abril de 1808,ter partido de Bordeus em 15 de Setembro de 1810 e em pricípios de Novembro desse ano atravessado a fronteira portuguesa,vendo no seu regresso inesperado,pois voltara antes dos outros expatriados,"um maravilhoso efeito da Providência Divina, que quis atender aos seus votos contínuos para restituir-se a este Reino,facilitando-lhe o meio mais oportuno quando tudo parecia conspirar e desvia-lo dele e rete-lo na França,pela sua constante adesão a Vossa Alteza Real».
Cremos explicada,pelo exposto, a razão da ideia de que os Lemos de Condeixa mantinham boas relações com os franceses;tão boas eram que,no entanto,foram seladas a balas no "salão queimado" do Palácio de Condeixa,em 1811,quatro meses depois do regresso do Bispo de Coimbra a Portugal!"