A crise provocada pela ganância de banqueiros,políticos e mais personagens sem escrúpulos,está afectar todo o mundo.
Portugal,pequeno país dependente económicamente,sofre bastante com as consequências.É já visível o efeito,mesmo nas classes consideradas de médio rendimento.Há um manifesto retraímento nas compras de celebração do Natal.Isso seria de menor importância, se não se traduzisse em incapacidade de atender as necessidades mais primárias!
A sociedade de consumo,promovida pela criação de símbolos como o Pai Natal,tem-nos feito esquecer valores tradicionais muito mais genuínos,onde o espírito natalício era vivido de forma verdadeiramente familiar.
Ao reler um velho livro,encontrei o texto de um grande escritor português,Ramalho Ortigão.Não resisti à tentação de o copiar,em memória de algo que está quase a desaparecer da nossa tradição:o Presépio!
Portugal,pequeno país dependente económicamente,sofre bastante com as consequências.É já visível o efeito,mesmo nas classes consideradas de médio rendimento.Há um manifesto retraímento nas compras de celebração do Natal.Isso seria de menor importância, se não se traduzisse em incapacidade de atender as necessidades mais primárias!
A sociedade de consumo,promovida pela criação de símbolos como o Pai Natal,tem-nos feito esquecer valores tradicionais muito mais genuínos,onde o espírito natalício era vivido de forma verdadeiramente familiar.
Ao reler um velho livro,encontrei o texto de um grande escritor português,Ramalho Ortigão.Não resisti à tentação de o copiar,em memória de algo que está quase a desaparecer da nossa tradição:o Presépio!
PRESÉPIO DA MINHA INFÂNCIA,de Ramalho Ortigão.
Era uma grande montanha de musgo,salpicada de fontes,cascatas,de pequenos lagos,serpenteada de estradas em ziguezague e de ribeiros atravessados de pontes rústicas.
Em baixo,num pequeno tabernáculo,cercado de luzes,estava o divino bambino,louro,papudinho,rosado como um morango,sorrindo nas palhas do seu rústico berço,ao bafo quente da benígna natureza representada pela vaca trabalhadora e pacífica e pela mulinha de olhar suave e terno.A Santa Família contemplava em êxtase de amor o delicioso recém-nascido,enquanto os pastores,de joelhos,lhe ofereciam os seus presentes,as frutas,o mel,os queijos frescos.
A grande estrela de papel dourado,suspensa do tecto por um retrós invisível,guiava os três reis magos,que vinham a cavalo descendo a encosta com as suas púrpuras nos ombros e as suas coroas na cabeça.Melchior trazía o ouro,Baltasar a mirra,e Gaspar vinha muito bem com o seu incenso dentro de um grande perfumador de família,dos de queimar pelas casas a alfazema com açúcar ou as cascas secas das maçãs camoesas.
Atrás deles seguia a cristandade em peso,que se figurava descendo do mais alto do monte em direcção ao tabernáculo.Nessa imensa romagem do mais encantador anacronismo,que variedade de efeitos e de contrastes!Que contentamento!Que alegria!Que paz de alma!Que inocência!Que bondade!
Tudo bailava em chulas populares,em velhas danças moiriscas,em ingénuas gavotas,em finos minuetes de anquinhas e de bico de pé afiambrado.
Tudo ria,tudo cantava nesses deliciosos magotes de festivais romeiros de todas as idades,de todas as procissões,de todos os países,de todos os tempos!
Alguns-os mais ricos presépios-tinham corda interior,fazendo piar passarinhos que voavam de um lado para o outro,mexiam as asas e davam bicadas nas fontes de vidro,em que caía uma água também de vidro,fingida com um cilindro que andava à roda por efeito de misterioso maquinismo.
Todas estas figuras do antigo presépio da minha infância tinham uma ingénua alegria primitiva,patriarcal,como devia ser a de David dançando na presença de Saul.Dessas grandes caras de páscoas,algumas modeladas por inspirados artistas obscuros,cuja tradição se perdeu,exalava-se um júbilo comunicativo como de uma grande aleluia.
Era uma grande montanha de musgo,salpicada de fontes,cascatas,de pequenos lagos,serpenteada de estradas em ziguezague e de ribeiros atravessados de pontes rústicas.
Em baixo,num pequeno tabernáculo,cercado de luzes,estava o divino bambino,louro,papudinho,rosado como um morango,sorrindo nas palhas do seu rústico berço,ao bafo quente da benígna natureza representada pela vaca trabalhadora e pacífica e pela mulinha de olhar suave e terno.A Santa Família contemplava em êxtase de amor o delicioso recém-nascido,enquanto os pastores,de joelhos,lhe ofereciam os seus presentes,as frutas,o mel,os queijos frescos.
A grande estrela de papel dourado,suspensa do tecto por um retrós invisível,guiava os três reis magos,que vinham a cavalo descendo a encosta com as suas púrpuras nos ombros e as suas coroas na cabeça.Melchior trazía o ouro,Baltasar a mirra,e Gaspar vinha muito bem com o seu incenso dentro de um grande perfumador de família,dos de queimar pelas casas a alfazema com açúcar ou as cascas secas das maçãs camoesas.
Atrás deles seguia a cristandade em peso,que se figurava descendo do mais alto do monte em direcção ao tabernáculo.Nessa imensa romagem do mais encantador anacronismo,que variedade de efeitos e de contrastes!Que contentamento!Que alegria!Que paz de alma!Que inocência!Que bondade!
Tudo bailava em chulas populares,em velhas danças moiriscas,em ingénuas gavotas,em finos minuetes de anquinhas e de bico de pé afiambrado.
Tudo ria,tudo cantava nesses deliciosos magotes de festivais romeiros de todas as idades,de todas as procissões,de todos os países,de todos os tempos!
Alguns-os mais ricos presépios-tinham corda interior,fazendo piar passarinhos que voavam de um lado para o outro,mexiam as asas e davam bicadas nas fontes de vidro,em que caía uma água também de vidro,fingida com um cilindro que andava à roda por efeito de misterioso maquinismo.
Todas estas figuras do antigo presépio da minha infância tinham uma ingénua alegria primitiva,patriarcal,como devia ser a de David dançando na presença de Saul.Dessas grandes caras de páscoas,algumas modeladas por inspirados artistas obscuros,cuja tradição se perdeu,exalava-se um júbilo comunicativo como de uma grande aleluia.