domingo, 15 de novembro de 2009

BRINCANDO COM AS ORIGENS


O ano passado foi publicada no Diário de Coimbra uma carta assinada por mim,com o título "As origens do topónimo Conímbriga" e na qual brincava sobre este tema.Para quem na altura não leu a mencionada carta,aqui vai,mais ou menos, o que dizia:
" Frequentemente pergunta-se qual a origem do nome Conímbriga e a data da fundação de Condeixa,a velha ou a nova,tanto faz.As explicações são,regra geral,tão controversas que acabamos por ficar a saber o mesmo,ou seja,nada.
Não sendo historiador nem tendo andado por programas televisivos,evidentemente não me arrisco a ligar o nome daquele lugar à presença de hipotético guerreiro "Nim",aparecido para salvar a integridade de princesa donzela ameaçada por feroz cobra,contra a qual ele bravamente lutou e venceu em sanguinolenta "Briga".Em consciência,parece-me que falta aqui explicar como é referido "Nim"e "Briga",sem mostrar o "Co"(leia-se Có).Por minha grande pena,confesso não ser erudito!Conheço porém suficientemente a génese de três acontecimentos interligados que podem,de alguma forma,clarear as ideias: a razão do nome Conímbriga, a provável data da fundação de Condeixa e a origem das célebres "escarpiadas",especialidade doceira genuína de Condeixa.Aqui vai a "estória":
" Há muito, muito tempo,existiu cerca do local onde hoje se localizam as Ruínas de Conímbriga,um pequeno povoado de gente rude e simples que vivia da parca agricultura. O local era conhecido por terra dos Cónios...e das Cónias,evidentemente.Um dia,os romanos que tinham a mania de conquistadores,apareceram por ali e pretenderam expulsar os naturais para lá construírem uma cidade.Ora os Cónios(de ambos os sexos),eram simples mas não eram parvos.Corajosamente,decidiram lutar com vigor.Mas que podiam eles fazer contra a força bruta das poderosas legiões?No fim,o Centurião impressionado com a valentia daquela gente,perguntou como se chamava o local.A resposta,naturalmente,foi que era a "terra dos Cónios...e das Cónias"."Pois então,disse o general romano,se são Cónios(ignorando discriminatóriamente as Cónias)e tão bons de briga,ordeno que a partir de agora esta terra passe a chamar-se Conímbriga!"(explicação mais terra a terra do que aquela balela do guerreiro e da cobra!)
Pouco mais de meia-dúzia de séculos depois,outros conquistadores resolveram também dar cabo da paciência dos pobres iberos.Lá dos confins,Gôdos,Vandalos e Suevos vieram correr com os romanos e tomaram conta de tudo.Vieram,conquistaram e ficaram!Os Godos,com o tempo passaram eufemisticamente a chamar-se obesos e os Vandalos...bem,esses acho desnecessário explicar por onde andam!Mas guerreiros vindos do norte de África,decidiram também molhar a sopa e foram ocupando o que podiam.Entretanto,lá para o norte,junto à Galiza,um certo príncipe,danado porque a mãe queria dar as suas terras a um tal Conde de Trava,discutiu com ela(dizem até que chegou a dar-lhe uns tabefes,o malvado),fechou-a num quarto escuro e declarou-se rei daquilo tudo.Como era bastante iletrado,resolveu vir para Coimbra estudar.No intervalo das aulas(e nas gazetas!),passava o Mondego e vinha para aqui bater nos moiros e nos pobres indígenas,só para aliviar o "stress".É claro que estas cenas provocavam muitas vítimas.E surgiu um problema:ou as pessoas lutavam,ou velavam os falecidos.Pensaram,pensaram e encontraram a solução.Contrataram umas senhoras especializadas em carpir nos velórios.Toda a santa noite, ali estavam elas,coitadinhas,no seu triste fadário!Ora como eram naturais de uma região caracterizada pela produção de doces conventuais,exigiram que logo pela manhã lhes servissem um cházinho acompanhado de apetecíveis bolos.Um problema para este povo,habituado apenas à brõa e sardinha!Então,uma velhota, que servira como cozinheira em casa de uns senhores lá para os lados de Pereira,disse que conhecia uma receita prática e barata de fazer bolos.Mandaram chamar um padeiro,por sinal surdo que nem uma porta e a velha começou a dar-lhe instruções.Observou-se então o seguinte diálogo:"deita farinha na gamela e amassa com água-Com?,perguntou o surdo-Com água;depois de amassar bem,mistura mel com azeite-Com?-Com azeite.Agora leva ao forno...-Com?-Deixa,disse a velha,farta das perguntas do mouco,eu acabo o resto!"
Ora aqui está como se fez o nome da terra! E simultâneamente se iniciou a fabricação da mais famosa especialidade doceira!Resta dizer que,como os deliciosos pitéus eram um mimo para as "carpidas",corruptela de carpideiras,evoluiu para "ascarpidas ou escarpíadas,melhor que"escarapiádas",como também lhes costumam chamar,por sinal sem piada nenhuma.
E assim se prova que a fundação da vila é coeva da própria fundação da nacionalidade,embora alguns historiadores,baseados em documentos, queiram desmentir,argumentando que no tempo de Afonso II das Astúrias o povoado já existia. Contrariadores!
Mas a vila tem ainda outro produto de nomeada:o "Licor de Leite"! Uma vila tão bonita,"cheia de encantos mil",como os brasileiros posteriormente aprenderiam a dizer(cidade, maravilhosa...),só podia ser a "terra do leite e do mel".Lá está,leite para o licor e mel para as escarpiadas,tão fofinhas e gostosas! Venha daí deliciar-se e terá oportunidade de verificar que falo verdade,embora apenas quando me refiro às escarpiadas!!!