quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

AS FILARMÓNICAS DE CONDEIXA

Um amigo,com ascendência directa em famílias antigas de Condeixa e,por isso, muito interessado no que à vila diz respeito,enviou-me há dias o retrato de uma filarmónica de Condeixa.Fotografia muito antiga,dos finais do século XIX,com a linda porta e janela da Capela da Quinta de S.Tomé como pano de fundo,interrogando se teria a ver com a possível presença de um seu antepassado.Questionava-me então porque nunca escrevi nada sobre as bandas de música de Condeixa.
É claro que o repto não podia ficar sem resposta!
O que sei sobre o tema,é muito pouco.Por essa razão,permito-me transcrever o texto escrito pela parceria Dr.Fernando Rebelo/Isac Pinto,editado em cadernos intitulados genéricamente "Subsídios Para a História de Condeixa",com o sub-título:


                                                    "A "Música Velha".







A conhecida família Bandeira,que sempre andou ligada às iniciativas construtivas que têm surgido em Condeixa,esteve unida à prmeira filarmónica da vila,por intermédio do seu representante,Fortunato Maria dos Santos Bandeira,que pode ser considerado o seu verdadeiro fundador.
Iniciada em 1850,foi seu primeiro regente José Patrício da Silva,figurando nela,como componentes mais entusiastas o citado Fortunato Bandeira(figle),Marcelino Rodrigues«Amâncio»(trompa lisa),José Simões(trombone de varas),José Vicente de Oliveira e Inácio de Magalhães(cornetas de chaves).
Também nela tocaram João Bandeira,João e Joaquim Patrício da Silva,Joaquim Antunes Buraca,Alexandre Dinis Leitão,António Canela,António Pessoa(pai),Francisco de Assunção(Boneco),António Fernandes da Piedade,Manuel Fernandes Pico,Francisco Rodrigues(Amâncio),José Duarte de Paula(Garoto),José Galvão,Francisco e José Maria Simões de Carvalho,Manuel Luís dos Santos e seu enteado António Duarte Braga.
Este conjunto musical possuía um grupo de cantores de Igreja,possivelmente criado mais tarde,talvez em 1863,dirigido por José Maria Perdigão que, naquela época,era apontado como muito sabedor,cantando ora como tiple,em falsete,ora como baixo profundo,na sua voz natural.Acompanhavam-no o tenor João Patrício da Silva e os baixos António Fernandes da Piedade e Francisco de Assunção.
Em Abril de 1852,esta filarmónica tocou durante a recepção feita na vila à Raínha D.Maria II,que pernoitou no Palácio de Francisco de Lemos Ramalho de Azeredo Coutinho,com seu marido, o rei consorte D.Fernando e seus filhos...( não tem interesse para o tema em questão)
...Até ao ano de 1877,já com a luta acesa na vila entre os partidos regenerador e progressista,a filarmónica de Fortunato Bandeira manteve-se independente,embora com altos e baixos.Porém, nesse ano,não resistiu ao abandono a que foi votada pelos músicos progressistas que,convidados pelo chefe local do partido,Conselheiro António Egípcio Quaresma Lopes de Vasconcelos,se juntaram em nova filarmónica.
A do Bandeira extinguir-se-ia se o já citado Francisco Lemos não a tomasse sob a sua protecção,passando a mantê-la e,desde então,começou a ser conhecida por Música do Partido Regenerador ou dos "Sardinhas",por ser regente dela José Silvestre Ferreira Sardinha.
Em 1880 foi a Coimbra tomar parte nas festas do trcentenário de Camões e em 1882 foi à mesma cidade por ocasião das Comemorações do Centenário do Marquês de Pombal.
Extinta a filarmónica progressista,por volta de 1895,os músicos desta ingressaram na regeneradora e da fusão nasceu o nome de Lealdade Condeixense,que por decreto de 17 de Outubro de1904,foi autorizada pelo rei D.Carlos,a ter o título de Real.
A Carta Régia respeitante a esta mercê,encontra-se registada no Real Arquivo da Torre do Tombo a fls.12 do livº19 de Registo de Mercês,estando original actualmente na posse de Miguel Carlos Quaresma.
Foi em 29 de Novembro de 1899 que se constituiu oficialmente,por escritura,a Filarmónica Lealdade Condeixense,assinada pelo escrivão Adelino Simões Ferreiura Godinho e pelos condeixenses Manuel Dias Coelho,António Oliveira Cabelo,António Loio Cera,João Marques Pita de Almeida,António Pessoa Júnior,António Augusto Quaresma,José da Costa,Jaime Fernandes da Piedade,Joaquim Pato,José Rasteiro Relvão,Joaquim da Assunção Preces,Albano Carlos Quaresma,Manuel Dinis Coelho,Manuel Firmino,José Simões Melâneo,João Fernandes Pico,ugusto Marta,Joaquim Cocenas,Aníbal Tavares Pessoa,Isac de Oliveira Pinto,António Maria Jacinto,João Ramos Sansão,Francisco dosSantos Oliveira,Manuel Antunes Cocenas e Alfredo Cocenas...

...Em 11 de Junho de 1907 tocou no jantar oferecido por Manuel Ramalho,no seu palácio, a El-Rei D. Carlos que neste dia visitou Condeixa,com o príncipe D.Luís Filipe.
Nessa data,era regida por António Ferreira Pena e tinha como executantes:António Oliveira Cabelo(o Camarão),António Loio Cera,Albano Carlos Quaresma;Adolfo Braga de Oliveira,Abel Ramos Sansão,José Policarpo da Costa,Semeão Braga de Oliveira,Teodorico Moita,Fernando Diniz Coelho,António de Oliveira,António Quaresma(Raça),Jaime Fernandes da Piedade,Francisco Marques Pita de Almeida,José Pereira da Fonte,Joaquim Pato,Aníbal Tavares de Almeida,José Rasteiro Relvão,Joaquim Abílio Preces,Joaquim Cocenas,António Pessoa,Artur Esteves,Francisco de Oliveira,João Fernandes Pico,António Gorgulho,João Bernardes da Silva,João Nogueira,Manuel Firmino,Hermitério Pato e António da Paula...

 ...E mais nove anos decorreram até que os músicos se dividiram para formarem a «Fina Flor Condeixense»,que fez a sua primeira apresentação na Barreira,em 2 de Fevereiro de 1920,dando início a uma rivalidade que durou trinta anos.
Embora se ressentisse,a «Música Velha» continuou tocando nas festas populares do concelho e outras,defendendo sempre o nome de Condeixa com afínco.
Vamos dar um exemplo desse bairrismo que poderá servir de exemplo aos que,actualmente,tanto dizem mal da sua terra.
À Festa da Senhora dos Milagres,em Cernache,no ano de 1932,foram duas filarmónicas:a Lealdade Condeixense e a do Cercal,regidas respectivamente,por Joaquim Jacinto e Oleiro.
Na noite do fogo,cerca das 3 da madrugada,como se tivesse esgotado o reportório da banda condeixense,o velhoAlbano Carlos mais o Francisco Pita,foram dizer ao Oleiro para acabar o arraial.Com ironia triunfante,foi-lhes respondido que«quem as tinha é que as jogava»,continuando a banda do Cercal a tocar,enquanto a de Condeixa se retirava envergonhada.
Desde esse dia, a Filarmónica viveu para a desforra e,esquecendo idades e melindres,entregou a direcção ao filho de Albano,o actual funcionário da Câmara Municipal,Miguel Carlos Quaresma,que então contava apenas 20 anos.
Na festa seguinte da Senhora dos Milagres,um ano depois,a «Música Velha» foi oferecer os seus serviços gratuitos à Comissão de de Cernache,com a condição de ali comparecer a banda do Cercal e,na noite do fogo,precisamente no mesmo local,os condeixensesz desforraram-se pois a banda adversária esgotou o seu reportório e a nossa continuou tocando.Foi um delírio a que não faltaram os foguetes,habituais companheiros das alegrias de Condeixa...
Até 1944,continuou a a música,a que também já chamavam do velho Albano,a percorrer algumas das festas mais importantes da região e mesmo a delocar-se longe.Assim,participou nos festejos anuais de Lamas,Miranda do Corvo,Muge,Atalaia, Eiras,Tovim,Glória,Penela,S.Martinho do Bispo,Torres do Mondego,Cernache,Soure,cidade de Coimbra,e tantos outros,não citando as dos concelhos de Condeixa,como as dos Passos,Ega,Furadouro,Zambujal,etc.
Em 1928,o ilustre pintor conimbricense Contente,pintou a bandeira da Lealdade Condeixense,que em 1944 amortalhou o corpo de Albano Carlos Quaresma,justa homenagem prestada pelos seus companheiros ao velho dirigente que,aos 69 anos,só tinha dois amores:o da família e o da sua música.
Falecido este baluarte da antiga banda dos Lemos,quando parecia que com ele morrera também a «Música Velha»,surgiu a dar-lhe novos alentos,uma comissão constituída por Dr.Fernando de Sá viana Rebelo,Dr.António Fortunato da Rocha Quaresma,António de Oliveira Cordeiro,Artur Varela,Isac de Oliveira Pinto,Jaime Francisco dos Santos e Álvaro Pedro Augusto.
E a velha filarmónica continuou,dirigida por Miguel Carlos Quaresma,regente encartado desde 1936,amadrinhada pela Senhora D. Maria Elsa da Piedade Sotto Mayor Matoso e com nova bandeira.
Teve seguidamente um período áureo sendo as suas exibições muito gabadas na Lousã(Senhora da Piedade),Coimbra(Rainha Santa),Figueira da Foz(S.João),Coimbrão,Muge,Atalaia,etc.,chegando a ser premiada com medalhas e fitas.
Instalando-se em Condeixinha,numa casa pertencente ao Dr.Joaquim Bandeira-mais uma vez a família Bandeira a acarinhar uma iniciativa-ali manteve a sua sede até 1949,data em que suspendeu a actividadedevido a exigências burocráticas e eclesiásticas,sobremaneira pesadas para os fundos da filarmónica.
Até quando?
Não é fácil vaticinar,pois a música velha tanto pode estar já amortalhada nas saudosas recordações dos seus fieis componentes,como de um momento para o outro,pode irromper pelas ruas da vila tocando marcial e entusiásticamemte o Hino dos Lemos,que pela última vez foi executado na Lousã,em 1948,frente à casa do Dr. Eugénio Viana de Melo,Governador civil de Coimbra,homenageando nele uma ilustre família que sempre acarinhou Condeixa,com particulares manifestações.



A ÚLTIMA FOTOGRAFIA DA FILARMÓNICA FINA-FLOR DE CONDEIXA(MÚSICA NOVA)


....E Condeixa nunca mais voltou a ter uma Filarmónica!

domingo, 18 de dezembro de 2011

O PRESÉPIO PORTUGUÊS

   A crise provocada pela ganância de banqueiros,políticos e mais personagens sem escrúpulos,está afectar todo o mundo.
   Portugal,pequeno país dependente económicamente,sofre bastante com as consequências.É já visível o efeito,mesmo nas classes consideradas de médio rendimento.Há um manifesto retraímento nas compras de celebração do Natal.Isso seria de menor importância, se não se traduzisse em incapacidade de atender as necessidades mais primárias!
  A sociedade de consumo,promovida pela criação de símbolos como o Pai Natal,tem-nos feito esquecer valores tradicionais muito mais genuínos,onde o espírito natalício era vivido de forma verdadeiramente familiar.
  Ao reler um velho livro,encontrei o texto de um grande escritor português,Ramalho Ortigão.Não resisti à tentação de o copiar,em memória de algo que está quase a desaparecer da nossa tradição:o Presépio!

                           PRESÉPIO DA MINHA INFÂNCIA,de Ramalho Ortigão.

   Era uma grande montanha de musgo,salpicada de fontes,cascatas,de pequenos lagos,serpenteada de estradas em ziguezague e de ribeiros atravessados de pontes rústicas.
  Em baixo,num pequeno tabernáculo,cercado de luzes,estava o divino bambino,louro,papudinho,rosado como um morango,sorrindo nas palhas do seu rústico berço,ao bafo quente da benígna natureza representada pela vaca trabalhadora e pacífica e pela mulinha de olhar suave e terno.A Santa Família contemplava em êxtase de amor o delicioso recém-nascido,enquanto os pastores,de joelhos,lhe ofereciam os seus presentes,as frutas,o mel,os queijos frescos.
  A grande estrela de papel dourado,suspensa do tecto por um retrós invisível,guiava os três reis magos,que vinham a cavalo descendo a encosta com as suas púrpuras nos ombros e as suas coroas na cabeça.Melchior trazía o ouro,Baltasar a mirra,e Gaspar vinha muito bem com o seu incenso dentro de um grande perfumador de família,dos de queimar pelas casas a alfazema com açúcar ou as cascas secas das maçãs camoesas.
 Atrás deles seguia a cristandade em peso,que se figurava descendo do mais alto do monte em direcção ao tabernáculo.Nessa imensa romagem do mais encantador anacronismo,que variedade de efeitos e de contrastes!Que contentamento!Que alegria!Que paz de alma!Que inocência!Que bondade!
 Tudo bailava em chulas populares,em velhas danças moiriscas,em ingénuas gavotas,em finos minuetes de anquinhas e de bico de pé afiambrado.
 Tudo ria,tudo cantava nesses deliciosos magotes de festivais romeiros de todas as idades,de todas as procissões,de todos os países,de todos os tempos!
 Alguns-os mais ricos presépios-tinham corda interior,fazendo piar passarinhos que voavam de um lado para o outro,mexiam as asas e davam bicadas nas fontes de vidro,em que caía uma água também de vidro,fingida com um cilindro que andava à roda por efeito de misterioso maquinismo.
 Todas estas figuras do antigo presépio da minha infância tinham uma ingénua alegria primitiva,patriarcal,como devia ser a de David dançando na presença de Saul.Dessas grandes caras de páscoas,algumas modeladas por inspirados artistas obscuros,cuja tradição se perdeu,exalava-se um júbilo comunicativo como de uma grande aleluia.
  

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ESPIRITISMO OU ESPIRITUALIDADE

Estes são temas que devem ser separadamente tratados,embora no fundo, a raíz seja muito próxima,em alguns aspectos.
Não vou,evidentemente,fazer o tratamento de cada um.Este não é o lugar próprio,nem os meus conhecimentos o permitem.Conheço apenas a concepção básica:"espiritualidade é a busca do transcendente,entendendo que cada um de nós possui uma alma(o espírito),que se liberta do corpo no momento do falecimento".Já o espiritismo,diz Allan Kardec,"é a comunicação com esses espíritos".A prática desta comunicação obtem-se com a utilização de "médiuns",individuos que se pressupõe estarem dotados com a capacidade de entrar nesse mundo fantástico,onde moram as almas.
A abordagem destes temas,serve-me apenas como prefácio para mais um dos meus "exercícios de memória",relatando coisas que se passaram numa época já bem remota,no tempo da minha juventude.

No início da década de 1950,alguns jovens,estudantes liceais,(creio que já frequentavam o Externato Infante D.Pedro),decidiram criar em Condeixa uma agremiação estudantil do género das repúblicas coimbrãs.
Num velho casarão,fundaram então a Real República das Catacumbas,esta última designação  devida ao facto de a parte de trás da casa confinar com uns moinhos,dando a vaga ilusão de grutas catacumbianas.
É claro que a república não servia de moradia aos estudantes e apenas era utilizada como ponto de reunião daquele grupo de amigos e local de ensaios para as serenatas que,no tempo,se faziam às bonitas raparigas de Condeixa e arredores.
Um dia,dois elementos do grupo trouxeram a ideia de realizar sessões de espiritismo.Não mais na minha vida fui aliciado para tais práticas,logo não sei se aquilo era bem executado.
"Falar" com os mortos,não é tarefa que se possa fazer de qualquer maneira!Exige tratamento personalizado,com ambiente propício.Por isso,à roda de uma mesa de pé-de-galo,reunia-se um grupo,sempre ímpar, de pessoas.A utilização daquele tipo de mesa era indispensável,como adiante se verá!
Sentados com as mãos abertas em cima da mesa e os dedos da extremidade de cada mão a tocarem-se nos dedos vizinhos(só assim "a corrente", qual circuito eléctrico,se pode estabelecer),iniciava-se a função.A luz do candeeiro era substituida pela amarelenta vela de estearina ou,melhor ainda,pelo morrão da candeia de azeite.Seguia-se um curto período de concentração.Depois,um dos "espiritas"informava o "além"que pretendia iniciar a comunicação e que a resposta devia ser dada por batimentos da mesa,um só para repostas sim,dois para não.Após esta indispensável informação,convocava-se o espírito com quem se pretendia "falar"..E começava a consulta,género:"És o espírito de fulano?"
Muito raramente a alma invocada se recusava a participar.Mas,quando tal acontecia,era porque estava presente algum céptico.Aí,não havia maneira de convencer o espírito a colaborar!A mesa entrava em batimentos descontrolados,cheia de tremeliques e a confundir as respostas.
Um dia em que isso aconteceu,fomos encontrar o intruso incrédulo,bem escondidinho para ver no que aquilo dava!
Mas,regra geral,até se conseguia um bom nível de conversação.É certo que bastante cansativa para o desgraçado do "médium"que tinha de suportar a mesa constantemente a bater-lhe nos joelhos.
As perguntas não podiam ser complicadas.Nada de querer saber como era a "vida"lá nos confins,ou se estava bem quentinho na brasa das penas do inferno.Aliás,estes desgraçados não tinham licença para comunicar.Nem os do purgatório!Sómente as almas puras e,por especial deferência,as que ainda "viviam"no limbo,que é assim uma coisa "nem carne,nem peixe",um espaço onde se fica transitóriamente,até à decisão suprema.
Visto à distância de não sei quantas dezenas de anos,até dá para fazer graça.Mas na altura,a questão era muito séria!
Um dia,estávamos na Praça a conversar sobre essas estórias fantasmagóricas,sentados num banco.Na altura havia uma grande vala,aberta para a colocação de cabos telefónicos.No auge da conversa,quando um dos intervenientes contava o episódio daquela alma que foi recambiada para o inferno,por castigo de dar com a língua nos dentes e revelado segredos que não devia,um curto-circuito nos cabos eléctricos de uma consola provocou grande clarão e o respectivo estrondo.
Aquilo parecia ensaiado!De uma só vez,todos se lançaram em salto acrobático para dentro da vala!
Bem,o susto foi tão grande que dois dos elementos do grupo,moradores numa aldeia próxima,não quiseram ir para casa sózinhos e um dos restantes companheiros teve de os acompanhar.Pudera,ele também não tinha coragem de ir para casa!
Mas as sessões não se limitavam à sala da república.A fama dos espiritas ultrapassou as paredes e o grupo começou a fazer sessões ao domicílio.
Um dia,fomos a casa de um conhecido e excêntrico clínico.A função decorreu tão bem,com a as almas bem dóceis ,a responderem ao longo interrogatório.Logo o anfitrião passou um atestado de competência ao grupo!Evidentemente,para gozar com a malta.Ou talvez não.Ele era mesmo excêntrico!
Numa terra pequena,onde tudo se sabia,o assunto passou a ser motivo de várias discussões.Os mais crentes afirmavam a pés juntos que aquilo era mesmo a sério.Mas há sempre os desmancha-prazeres!E resolveram desmontar o imbróglio.
Foi o grupo convidado para realizar mais uma sessão domiciliária.Quais actores participantes numa peça,ou músicos convidado para um forrobodó,lá fomos,convencidos da nossa superioridade de pessoas capazes de comunicar com o além.
Chegados à casa em questão,apresentaram-nos uma mesa de pé-de-galo enorme,em sólido bronze.
Inocentes,nem desconfiámos da marosca..Apagaram-se as luzes ficando apenas a bruxuleante vela e toca a iniciar a necessária concentração..O "médium" convocou os espíritos.Nada!.Mais uma chamada.Nem sequer uma leve oscilação da mesa!Ainda pensámos que a situação era devida à presença do dono da casa,com fama de bruxo!Rogámos-lhe que saísse,o que fez,contrariado.
Mas o mal estava feito!
Portando-se como meninos birrentos,os espíritos recusaram qualquer convite,sem nos dar cavaco!Já estávamos a ficar azuis.Então não é que as alminhas nos íam daixar ficar mal?
E foi isso que aconteceu,ninguém compareceu aos insistentes apelos!Não havia lugar para dúvidas,eles estavam mesmo zangados com a utilização da mesa de bronze!
Anos mais tarde,decobrimos que as mesas de pé-de-galo em madeira,são muito mais fáceis de manobrar!