Em Condeixinha,no antigo Beco do Seiça,havia uma tasca,propriedade de um homem bastante singular:Joaquim Lamas,mais conhecido por Loirinho.
Vivia em pobreza e,nem o facto de ser proprietário de um estabelecimento, lhe permitia algum desafogo.Antes pelo contrário!
A taberna,igual a tantas outras da terra,era de chão terreo,com balcão,uma ou duas pipas de vinho e um barril de aguardente.A sua particularidade residia no facto de serem os próprios fregueses a servirem-se da bebida e a colocarem o respectivo valor numa ranhura do balcão,para descanso do tasqueiro,pouco amigo de esforços.
Mais tarde,já na última fase da vida do Loirinho,uma doença qualquer tolheu-lhe os membros superiores e passou a vender cautelas da lotaria.Quando alguém lamentava o facto de não poder servir-se das mãos,respondia com aquela graça peculiar :"Deixa lá,eu também nunca precisei delas!"
Era solteiro,mas um dia resolveu deitar os olhos para uma senhora que tinha um defeito numa das pernas.Naturalmente tímido,pediu a alguém que intercedesse por si.Esse amigo lembrou-lhe que a senhora era coxa,ao que ele respondeu:"Não faz mal,eu não a quero para jogar futebol!"
Noutra ocasião,estando em Coimbra e necessitando voltar para Condeixa,encontrou o padre Mota,pároco de Condeixa-a-Velha e pediu-lhe boleia,mas o padre disse-lhe:"Já estou cheio,senhor Joaquim!"resposta pronta do Loirinho:"Pois Nosso Senhor lhe dê uma boa hora,senhor prior!"
Na tasca,aconteceu um episódio que marca a instalação da G.N.R. em Condeixa e teve como consequência a inauguração dos seus calabouços.
Duas das mais carismáticas figuras da vila,eram sem dúvida António Pessa e Joaquim Caniceiro.Dotados de fino espírito de observação e apurado sentido crítico,são inúmeros os ditos chistosos que lhes são atribuidos.Estes dois amigos gostavam de,após os afazeres diários,visitar as "capelinhas" da vila e arredores,petiscando e bebendo o seu copito.Um dia, a "capelinha" escolhida foi a do Loirinho.E como este era bastante condescendente,acabaram por despromovê-lo do cargo de patrão.O Loirinho não terá gostado da brincadeira e berrou que lhe estavam a assaltar a loja.Alguém no exterior estranhou o reboliço e chamou a guarda.Uma patrulha deslocou-se a Condeixinha e prendeu os brincalhões.Levados estes para o posto e,colocados perante o cabo Coelho que,por ser novo na terra, ainda os não conhecia, ordenou que fossem presos até ao dia seguinte,quando deveriam ser apresentados ao Juiz.
Ora acontecia que António Pessa e Joaquim Caniceiro eram pessoas muito conceituadas na vila e quando se soube da prisão,movimentaram-se as influências para a libertação dos dois amigos.Mas eles,fazendo valer a fama de pessoas excêntricas,recusaram ser libertados e exigiram ficar nas celas toda a noite!
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