domingo, 14 de agosto de 2011

SOBRE O TEMA "A BALADA DA NEVE"

A Balada da Neve,de Augusto Gil, é um dos poemas mais divulgados em Portugal. Incluido em diversos manuais escolares,faz parte do meu imaginário, como o fará de tantas outras pessoas que o leram ou declamaram em récitas de Escola.
O grande João Villaret "dizia-o"com a simplicidade que os versos sugerem,mas, simultâneamente, com a ternura comovente do seu final.
Nesta tarde calma de verão,deu-me para comentar em verso este lindo poema.

"Batem leve,levemente..."
Os livros antigamente
Tinham histórias e poemas
Recordo ainda temas
Que ensinavam a gente
A gostar do que se lia
Fosse prosa,poesia
Teatro de Gil Vicente
"Como quem chama por mim..."
É uma coisa que se sente
"Será chuva,será gente
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim..."
Da cabeça não saía
O dia envolto num véu
"Fui ver, a neve caía
Do azul cinzento do Céu..."
Como é linda, a neve!
"Branca e leve,leve e pura..."
É bela a sua brancura
De noite, parece dia!
"Há quanto tempo a não via
E que saudade, Deus meu!..."
Meu bafo a janela embaça
"Passa gente e quando passa..."
Os dias parecem iguais
"E noto,por entre os mais
Os passos miniaturais
Duns pézinhos de criança..."
Recordo os versos sofridos
"E descalcinhos,doridos
A neve deixa 'inda vê-los
Primeiro,bem definidos
Depois, em sulcos compridos
Porque não podia erguê-los..."
Sofra o mundo,em redor
"Mas as crianças,Senhor!
Porque lhes dais tanta dor
Porque padecem assim..."
Não era p'ra mim surpresa
O final da oração
"Uma infinita tristeza
Uma funda turbação
Entra em mim,fica em mim presa
Cai neve na Natureza
E cai no meu coração!"

Condeixa,14 de Agosto de 2011
Cândido Pereira

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

TEATRO DE REVISTA EM CONDEIXA

Em 1979,Ramiro de Oliveira,o poeta popular que escreveu as letras de muitas e belas melodias de seu pai,Mestre António de Oliveira e de seu irmão Maestro Saúl de Oliveira Vaio,escreveu uma revista que chamou "CONDEIXA SEM MÁSCARA",contando para isso com a colaboração do Rancho Folclórico e Etnográfico da Casa do Povo de Condeixa e de alguns dos seus elementos para a representação de vários números de uma outra revista de muito êxito,representada em 1936 no Cine-Avenida de Condeixa.Foi com muito prazer que aceitei o convite para ensaiador.
Dos quadros que melhor aceitação tiveram,contava-se "A Escarpiada e o Licor de Leite",na original revista cantado por Maria Bernardes da Silva(Maria da Joana)e Raúl Geraldes.

Ela:
Eu sou a escarpiada
Muito doce e saborosa
Bastante apreciada
Por ser tão apetitosa
Muitos a mim se atiram
Com instintos de leoa
Também não admira
Pois que todos me acham boa.

Ele:
Sou o licor de leite
Branquinho e açucarado
Por isso quem me bebe
Depressa fica banzado
Descendo lá das mudas
E do Bairro do Quelhorras
É vê-los sair todos
Soltando vivas e morras.
Ó escarpiada
Mui saborosa
E amarelada
Chega-te a mim
Que quero dar-te
Uma dentada.

Ela:
Licor de Leite
Estás a mangar
Meu marotão
Estás todo feito
Com esse jeito
Mas isso não!

Ele:
Há gulosos por aí
E há gulosas também
Que não prescindem de mim
E me bebem muito bem
Quando lhes subo à cabeça
O delírio é permanente
Tudo baila,tudo brinca
Tudo canta,minha gente!

Ela:
Com açucar e canela
E a côr acastanhada
Além de doce e bela
Sou bem feita,bem formada
Dizem que abro o apetite
E também julgo que sim
Porque vejo os lambareiros
Todos de volta de mim.
Grande consumo
Por toda a parte
Cá e p'ra fora
Sou amassada
E sou formada
P'lo Ai que Chora.

Ele:
E eu também
Mas vendo bem
Há muitos anos
E que o digam
Os que aqui param
Do Costa Ramos!

Como explicação,Costa Ramos era uma referência aos motoristas dessa firma de transportes rodoviários que,na circulação Lisboa-Porto,aqui paravam para tomar as refeições,regra geral,na taberna do Zé David.
Da revista "Isto é Condeixa",representada na vila em 1964,foi recriada a fantasia "Condeixinha e Outeiro",nessa altura interpretada por Lurdes Loio e José Pinto:

Outeiro
Gabarolas!Folião e bairrista!Saiam para a rua,venham para a festa e veremos se há aí quem me resista!A mim,e até ao meu par!Se Condeixinha vier...vocês vão ver,se há alguém capaz de nos vencer!

Condeixinha(entrando como por acaso):
Não vencem,não!Mas tu sem mim,também não és ninguém.Senão,diz-me:onde é que tu tens graça que ultrapasse a minha graça?

Outeiro:
Aspiro o aroma sem igual,do arvoredo...do jardim do meu Hospício.Ouço cantar alegre o rouxinol!

Condeixinha.
Mas diz-me,com franqueza,se em beleza,o encanto do Travaz lhe fica atrás?

Outeiro:
Onde tens tu um pôr-do-sol tão belo como o meu?

Condeixinha:
Mas não tens o encanto da Lapinha!O cantar sempre moço da levada...não ouves os moinhos,cansados,velhinhos,mas sempre criancinhas no palrar!

Outeiro:
Mas tenho em altar,misteriosos recantos de belezas sem par!Das pedras do meu solo,rompem flores...

Condeixinha:
E eu tenho-as de mil cores(tantas vezes já o tenho dito),são silvestres,mas são flores,espalhadas pela encosta onde habito!

Outeiro:
Deixas-me falar?

Condeixinha:
Espera,temos outras contas a ajustar!Porque andaste a cantar que eras folião?Que eras o"Bairro Lindo das Espanholas"?Oh!meu grande gabarolas!O que és tu,sem mim?

Outeiro:
AH!Tu falas assim?Não te lembras,vaidosa miúdinha,oh!Condeixinha,quem começou?Tu não cantaste nada?Não vieste para a rua convidar os rapazes a subir a ladeira,sem canseiras,só para lá irem buscar o par?Não disseste que"o sol rezava no teu seio,todos os dias"?Como tu te iludias!

Condeixinha:
Não iludia,não!E tenho mais para dizer.Porque me chamaste regateira,Marcha dos filhos da rua?


Outeiro:
Não foste tu a primeira,não foste tu,minha tola quem primeiro cantou então,que eu trazia na cachola,chapeu de grude e cartão?

Condeixinha:
Nãofalemos então mais,nas coisas que já lá vão!

Outeiro:
Bom,semprefoi bom recordar,e lembrar de viva voz,aos de mais fraca memória,que a nossa história...é tão comum,tão igual, que sempre que há festival,não podem passar sem nós!!!

(Cantando)

Condeixinha:
Tu tens "galinhas" eu "patos"
"cavacas"temos iguais
Já lá tiveste uns "patacos"
Mas notas eu tive mais.

Tive conversa barata
Mas cabecinha entendida
Tu tinhas uma de"prata"
E até fugiu p'rá Avenida.

A cadeia foi-se embora
O teu Colégio também
Já pouco mais tens agora
Sabes isso muito bem!

Outeiro:
Com moedas aos alqueires
Porque és tu tão mafarrica?
Cala a garganta que tens
E faz figura de rica

Tenho Alcobaça,Viseu
E tu Braga e Guimarães
Tudo o que tens,tenho eu
Tudo o que tenho,tu tens

Não contesto essa verdade
Mas ouve,que não te engano
Ainda tenho Caridade
E Salicús todo o ano!


Era assim que se demonstrava a velha rivalidade Condeixinha-Outeiro!
Para finalizar,dizia ainda o Compére:

Este espectáculo está a chegar ao fim,mas antes queremos apresentar-vos uma canção,ou antes,um Hino a Condeixa,que foi cantado há cerca de vinte anos por António Pessoa,numa das festas realizadas na Casa do Povo,por ocasião dos Santos Populares.Vai cantá-la o mesmo António Pessoa.

Entre a serra e a campina
Que o Mondego vem beijar
Há uma terra pequenina
Que em beleza não tem par

Não mora nela a tristeza
Mas quem por ela passar
Parte triste e com certeza
Vive triste até voltar!

Palácios velhinhos
Solares de saudade
Palreiros moinhos
Hospitalidade!
Recantos de sonho
Que a graça não deixa
Não tiro nem ponho
Tudo isto é Condeixa!

Nesta terra portuguesa
Que a natureza moldou
Há legados que a nobreza
Longos anos habitou
Vê-se o sol ao fim do dia
Pôr em festa o horizonte
Com recitais de poesia
Ao redor de cada fonte.