A primeira pessoa a dar com "aquilo",foi a senhora Maria,cozinheira,lavadeira e criada para todo o serviço.
Gritou horrorizada e fugiu espavorida!
Vieram os vizinhos e veio o polícia que estava de serviço na rua.
A porta foi aberta-perdão,já estava aberta,mas tiveram cautela,não fossem desaparecer possíveis impressões digitais.Entraram na cozinha e constataram que o susto da criada era justificado.
Por toda a parte se via sangue.Os bancos estavam tombados,a loiça partida,uma panela de aluminio amolgada e a "arma do crime",uma faca de cozinha afiada e reluzente,manchada de sangue,no chão,junto à panela.
O polícia,Cristiano de seu nome,influênciado por inúmeros romances da Vampiro,julgou-se nas docas de Londres,a braços com um abominável crime,quem sabe,perante um novo "Jack,o Estripador"!
Proíbiu imediatamente que tocassem fosse no que fosse,encarregou um dos presentes de tomar conta da cena e foi telefonar ao "Chefe".
-Está?É o Senhor Chefe?...daqui fala o Cristiano...não,não!Não é do Real Madrid.Ah!pois,mas eu até sou do Benfica!... Daqui fala o Cristiano,agente três quatro sete.O que foi?...houve aqui um crime.Onde?Na rua dos Candongueiros,Vila Joaquina...sim Chefe,eu espero!-
Depois do telefonema,o três quatro sete voltou ao "lugar do crime".Passado algum tempo,chegou um carro cheio de polícias que começaram logo a tirar informações,impressões e conclusões.
E a conclusão do Chefe,foi a seguinte:"Joaquina,uma senhora viúva e que vivia só,proprietária e habitante do prédio,foi assaltada por um ou mais ladrões,para lhe roubarem o "pé de meia"escondido debaixo do colchão.Provavelmente estava na cama,pois esta encontrava-se desfeita e,ao ouvir o barulho vindo da cozinha,(um vidro da janela estava partido)levantara-se e fora surpreendida pelos gatunos que a espancaram(uma tranca da porta estava também suja de sangue)e a mataram!
-Bravo,Chefe!disse o polícia Cristiano.Mas onde está o corpo?
-Levaram-no num carro e deitaram-no ao rio,sentenciou o Chefe!Imediatamente ordenou a dois subordinados que fossem fazer buscas no rio.Voltou a interrogar a criada chorosa.
-A minha patroa,coitadinha,era muito boazinha!Até costumava dar-me,de vez em quando,as roupas que já não queria.Eu bem as recusava,porque aquilo nem para panos de limpar o pó servia.Mas ela insistia tanto...
-Deixe-se de conversa fiada e vamos a factos,gritou o Chefe,com o seu vozeirão.
-Sim,meu senhor.Pois ontem ela estava um pouco adoentada.Ofereci-me para cá ficar,mas não aceitou.Ainda bem!
-Ainda bem?
-Sim,porque se eu cá ficasse,também morria,não era, meu senhor?
-Eu sei lá se era!...
O interrogatório decorreu deste modo,ficando apenas apurado ter a senhora Maria sido despedida de outra casa,por roubar cinco quilos de açucar-aos bocadinhos-como ela dizia.
O Chefe é que não foi mais em cantigas.Começou logo a desconfiar.E depois de várias contradições da mulher,chegou a uma conclusão-notável inteligência!-:O assassino era o mordomo...ou melhor,a criada!
Ninguém,melhor que ela sabia da existência do esconderijo do dinheiro.Quando nessa noite se ofereceu para ficar a fazer companhia à patroa,ao contrário do que disse,aceitou.Então,aproveitou a oportunidade,matou a pobre viúva,escondeu o corpo em qualquer sítio,talvez até o tenha enterrado no quintal e depois fez aquele alarido todo de manhã,como se estivesse inocente.Mas nem sequer tinha um alibi para justificar o tempo decorrido desde que supostamente saiu daquela casa,até que voltou no dia seguinte.
E o Chefe não esperou mais nada.Toca a ir presa!Lá na esquadra se resolveria tudo e ela seria obrigada a confessar o crime.
A senhora Maria gritou,esperneou,teve até um fanico,mas o Chefe não se condoeu.Um par de algemas e pronto,aí vão eles.
Quando chegaram à porta,para sair,aparecer uma senhora,indignada.Trazia um braço e uma perna com grandes ligaduras e no rosto,três ou quatro cruzes de adesivos.
-Que faz esta gente toda na minha casa,senhora Maria?
Mas a criada não respondeu.Desta vez,desmaiou de verdade!
O Chefe exigiu à senhora que se explicasse e ficou tudo esclarecido.
Como se sentisse doente,de manhã quando se levantou,preparou-se para matar um galo e fazer uma canjinha.O pior é que o capão era bravo e a senhora Joaquina tinha pouca prática de degoladora.Meteu a faca à goela do bicho e este,já a sangrar,saltou-lhe das mãos.A senhora Joaquina procurou agarrá-lo,mas partiu um vidro da janela e feriu-se no braço.Agarrou na tranca e só conseguiu partir a loiça.Depois,cortou-se no rosto e na perna.Saiu à pressa para ir fazer tratamento ao hospital,porque os ferimentos deitavam muito sangue.
E assim ficou esclarecido "O caso do Crime Misterioso",como o polícia Cristiano,o três quatro sete,já intimamente lhe tinha chamado!Diga-se de passagem que não ficou lá muito satisfeito com esta solução,porque o Chefe descarregou nele toda a bílis provocada pela decepção e triste figura.
A senhora Maria acordou do desmaio e,depois de saber a estória,abraçou-se à patroa e foram fazer a tal canjinha com o maldito galo,que foram encontrar morto,junto à capoeira.
O polícia Cristiano jurou não voltar a ler romances da Vampiro.E um vizinho mais esperto,sentenciou:
"Nunca julgues os casos,só pela aparência"!
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