Portugal possui um património rico em lendas e tradições,forma de cultura popular que utiliza o maravilhoso e o fantástico como veículo para difundir ideias,quase sempre com intenção moralizadora-a eterna disputa entre o Bem e o Mal.Serviam também as histórias para ocupar o tempo e a imaginação com breves ou longas narrativas contadas,sobretudo à noite,tanto dentro do aconchego da casa onde a lareira fornecia o necessário calor para combater o frio invernal,como também nas noites cálidas de verão,com os ouvintes sentados à roda do "contador de histórias",regra geral alguém idoso que conservava o segredo de velhas lendas,transmitidas através de gerações.São particularmente interessantes as lendas que envolvem motivos religiosos,de tal forma que ainda hoje continuam a fazer parte dos feitos atribuidos a muitos dos santos.Algumas das histórias são puramente fantasiosas,servindo apenas para incutir nos espíritos a noção de algo que nos transcende,raiando muitas vezes o inverosímil.É o caso,por exemplo,da padroeira de Condeixa,Santa Cristina,cuja lenda refere ter sido lançada ao mar com uma pesada mó de moinho presa no pescoço,à ordem de seu próprio pai,mas que se salvou pela intervenção divina.
No entanto,algumas crenças podem conter algo de verdade.
No século XVIII,o Bispo do Porto,D.Fernando Correia Lacerda introduziu nas lendas da Rainha Santa Isabel,por ele contadas,a hstória de um pagem que inventou uma acusação mas acabou castigado,por intervenção divina,no trama que ele próprio urdira.
"Na corte de D. Dinis havia um pagem protegido da Rainha,pois a ajudava nas muitas obras de caridade por ela feitas,sem o conhecimento do Rei.Um outro pagem,invejoso da maneira como o seu companheiro era tratado na corte,insinuou junto ao Rei que havia algo de estranho naquela relação da Rainha com o seu pagem.O monarca,movido pelo ciúme,recomendou ao dono de um forno de cal que quando lhe mandasse um pagem para saber se determinada ordem sua fora cumprida,o lançasse imediatamente no forno.Ordenou então ao pagem protegido da Rainha que fosse junto do forneiro com o recado.Ao passar junto da Igreja de S.Francisco da Ponte e ouvindo os sinos que anunciavam o início do ofício divino,o mensageiro,que era muito devoto,lá entrou e asssitiu à missa,demorando assim mais tempo que o necessário para cumprir a missão ordenada.O Rei,pensando que o pagem já estaria a arder,enviou o outro para confimar a ordem que dera.Ora isso era a senha que o Rei dera ao forneiro.Quando o pagem intriguista se apresentou ao homem do forno,foi imediatamente lançado às chamas!"
Mas não só a temática religiosa ou de simples crença popular servia para alimentar o imaginário dos ouvintes.São por demais conhecidas as chamadas "histórias da carochinha",narrativas ingénuas onde os animais representavam também o seu papel no desenrolar do enredo.
A par destas maneiras de contar histórias,surgem ainda os prolóquios ou adágios populares,tais como:"Pelo andar da carruagem,se vê quem lá vai dentro",frase que parece antiquada mas que ainda continua a utilizar-se como manifestação cultural popular.
Estou a recordar-me de um rifão popular bastante usado.É a história contada na nossa região de um camponês que foi a Coimbra vender os seus produtos transportados no dorso de um jumento.Ao chegar à ponte,dois estudantes resolveram pregar uma partida ao aldeão.Um deles retirou sorrateiramente o cabresto do burro enfiou-o no próprio pescoço,enquanto o outro se afastava com o animal e a respectiva carga.O dono do asno,sentindo que este não estava a caminhar com a desenvoltura que desejava,voltou-se para trás disposto a castigá-lo.Qual não foi o seu espanto ao deparar com um homem,em vez do burro.Logo o estudante lamuriou:"Não me bata,meu amo.Eu sou um pobre estudante que estava encantado,mas ao entrar na minha cidade o encanto desvaneceu-se e sou novamente homem.Agora só peço a sua generosidade para me livrar deste maldito cabresto".O camponês logo o libertou pedindo-lhe muitas desculpas pela pancada que dera a quem pensava ser um animal.Depois disso,partiu para a feira de gado disposto a comprar outro animal que substituisse o burro feito estudante.Aconteceu porém que os estudantes,depois de venderem a mercadoria roubada,foram também à feira para vender o burro.O aldeão,ao ver o seu asno à venda,chegou-se-lhe às orelhas e disse:Olhe,senhor estudante,"quem não o conhecer,que o compre!"
Perdeu-se o salutar convívio das reuniões familiares e,com isso,perdeu-se também o hábito de "contar histórias":
Infelizmente,nenhum dos meios modernos de comunicação têm capacidade para substituir o sortilégio das velhas lendas e contos populares!
Por sugestão do Sr Cândido, tenho vindo a ler o que tão bem aqui escreveu.Obrigada pela dica! O dificil é parar de lêr... Luisa Neves
ResponderExcluirGostei muito, como sempre gosto de todas as tuas histórias que são fabulosas, não seja eu tua irmã.
ResponderExcluirBeijinhos
Elsa Pereira
Já temos saudades de mais leituras!
ResponderExcluirAbraço,
Hugo M.